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 NaPaOc Amazonas P-120: nasce o Tigre da Guanabara

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Marcus Silva

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MensagemAssunto: NaPaOc Amazonas P-120: nasce o Tigre da Guanabara    NaPaOc Amazonas P-120: nasce o Tigre da Guanabara  Icon_minitimeQui Dez 13, 2012 1:11 am

Fonte texto : Felipe Salles    
Seg, 02 de Julho de 2012 16:56

 
Os Navio Patrulha Oceânico da classe Amazonas: Um "cabeça de série" ou apenas um elegante "tapa buraco"?

Anunciada no "apagar das luzes" de 2011, a decisão da Marinha do Brasil de adquirir da empresa britânica BAE Systems os três navios patrulhas originalmente construídos para a Guarda Costeira da pequenina nação caribenha de Trinidad e Tobago, pegou muitos observadores de surpresa aqui no Brasil. ALIDE, por sinal, adiantou essa notícia em primeira mão no dia 9 de dezembro. Para entender todos os detalhes desta negociação, na última semana de junho, ALIDE visitou a Base Naval de Portsmouth no Reino Unido, para assistir a mostra de armamento e para conhecer, pessoalmente, o novo navio.








O nascimento de um navio da Marinha

Um navio passa por várias etapas antes de ser adicionado à Marinha do Brasil. Durante todo o período de construção ele pertence ao fabricante, depois de uma bateria de testes ele é aceito pela DGMM (Diretoria Geral de Material da Marinha) e no final, após ser aprovado na Comissão de Inspeção e Assessoria de Adestramento (CIASA), é transferido do DGMM para a Esquadra ou para o Distrito Naval, conforme o caso.

Na MB os navios patrulha, sejam eles fluviais, costeiros ou oceânicos, ficam sempre alocados aos Distritos. O território brasileiro é dividido em 9 Distritos Navais que, são os órgãos da MB incumbidos de controlar a segurança nas águas jurisdicionais brasileiras. Desta maneira, no Brasil, são os Distritos que cumprem as tarefas que em outros países são responsabilidade de suas Guardas Costeiras.







O Navio Patrulha Amazonas

Oitenta militares foram selecionados e enviados à cidade de Portsmouth, no sul do Reino Unido. É ali onde fica a maior base naval britânica e também onde fica um dos estaleiros da empresa BAE Systems Naval Ships. Localizada a apenas 115 quilômetros ou 1h45 de carro da capital britânica, a cidade de Portsmouth tem uma rica e muito antiga tradição naval que remonta a mais de setecentos anos.

O projeto de OPV de 90 metros é uma evolução dos modelos da classe River (HMS Clyde, HMS Mersey, HMS Tyne and HMS Severn) em serviço na ZEE do Reino Unido. Este projeto foi criado pela empresa VT Shipbuilding (antes conhecida como Vosper Thornycroft), a mesma que projetou as fragatas da classe Niterói para a Marinha do Brasil na década de 70, para os requerimentos específicos da Guarda Costeira de Trinidad e Tobago, adicionando muitas melhorias no campo de conforto e automação de sistemas. Estes navios são novos tendo sido construídos entre 2008 e 2010 para a Guarda Costeira de Trinidad e Tobago. O contrato de aquisição original foi assinado em 2007 e em setembro de 2010 o novo governo recém-eleito daquela ilha caribenha cancelou sumariamente o contrato em setembro de 2010, deixando os navios não-entregues nas mãos da BAE Systems. Além destes três navios, um outro está sendo construído no estaleiro Bangkok Dock na Tailândia, com apoio da BAE Systems, para a Real Marinha Tailandesa.









O novo navio visto por dentro

Os OPVs da BAE Systems proveem um conforto aos seus tripulantes num nível muito superior a de qualquer classe de tamanho semelhante anterior, algo importante tendo em vista especialmente as missões de patrulha de longa duração. O navio é muito espaçoso, com a Praça d'Armas tendo quase o mesmo tamanho da de uma fragata mais antiga. Os suboficiais e sargentos ficam em camarotes para apenas dois militares, com banheiro próprio. Os "cafofos", como são conhecidas as salas de convívio e descanso das praças impressionam mais ainda, eles são quase tão espaçosos quanto a Praça d'Armas dos oficiais.

Uma destas peculiaridades deste projeto está na existência de um grande compartimento à ré onde podem ser abrigadas até 60 pessoas com seu próprio banheiros, refeitório e até uma copa para esquentar comida. Para o pessoal da BAE Systems esta área tem potencial para ser usada por tropas de forças especiais ou mesmo refugiados de naufrágios ou de crises humanitárias em terra. O compartimento de motores é bem grande, permitindo fácil acesso a todos os lados dos motores de propulsão e de geração elétrica. Existe a bombordo um guindaste capaz de levantar 16 toneladas que pode ser usado para carregar e descarregar até seis containeres ISO transportados no convoo, um bônus particularmente útil em situações de resposta a desastres ambientais e humanitários.

A boreste da superestrutura existe uma lancha inflável de casco rígido (RHIB na sigla em inglês) Pacific 24, que é capaz de atingir altas velocidades. Ela é construída por uma das várias subsidiárias da BAE Systems. Do outro lado do navio existe um turco projetado para acomodar e colocar no mar uma lancha maior e ainda mais rápida que a Pacific. A Enforcer 40 Interceptor é capaz de alcançar impressionantes 45 nós de velocidade. Com o cancelamento formal do programa para Trinidad e Tobago, em 2010, no entanto, esta Enforcer acabou não sendo construída. No Caribe, lanchas como esta são regularmente empregadas para interceptar lanchas rápidas de traficantes de drogas. A Marinha do Brasil, no entanto, optou por não comprar esta lancha e por substituir ela, ao menos nesta primeira fase, por uma segunda Pacific. O grande convoo na popa do Amazonas pode receber helicópteros até o tamanho do Sikorsky S-70 Sea Hawk, com seus 20 metros de comprimento. De todos os helicópteros da Marinha, apenas o SH-3A/B Sea King e o Super Puma/Cougar não poderão pousar nos navios da classe Amazonas. Devido à semelhança entre os NaPAOcs da classe Amazonas e os classe River britânicos, o Comandante Giovani, primeiro comandante do Amazonas, acredita que "a certificação do AH-11 Super Lynx da Força Aeronaval da MB no seu navio será muito simplificada".









Em julho de 2008 a Vosper montou uma joint-venture com a BAE Systems e terminou por vender todas as suas atividades industriais navais, incluindo o estaleiro de Portsmouth, para esta empresa em outubro de 2009. ALIDE escreveu anteriormente sobre o longo processo de consolidação da indústria britânica aqui.

Se os doze navios de patrulha de 200 toneladas da MB tiveram todos seus nomes começados com a letra “G”, e os novos patrulheiros de 500 toneladas usaram nomes com a letra “M”, para a nova classe de 1800 toneladas a Marinha optou por nomes começados por ”A”. Assim o “Port of Spain” virou Amazonas, o "Scarborough" passou a se chamar Apa e o "San Fernando" será rebatizado como Araguari, todos os três, nomes de rios no Brasil, e também nomes usados anteriormente pela Marinha nos contratorpedeiros da classe Amazonas, fabricados no Brasil na década de 40.

Na sexta feira, dia 29 de junho, coube ao Almirante Fernando Eduardo Studart Wiemer, Chefe do Estado-Maior da Armada, representar o Comandante da Marinha na cerimônia de mostra de armamento do NaPaOc Amazonas. O evento contou ainda com a presença do Embaixador brasileiro e dos adidos militares brasileiros em Londres assim como do Ministro britânico para Estratégia de Segurança Internacional, Gerald Howarth e do comandante da Base Naval de Portsmouth, Commodore Tony Radakin e de Mick Ord, Diretor Gerente da área de Naval Ships da BAE, que fez o papel de anfitrião do evento.  

Falando a ALIDE, Wiemer contou porque este navio na sua ida para o Brasil deverá passar por vários países africanos. Ele disse que: “o Brasil atribui uma grande importância ao Atlântico Sul, e, assim, não podemos deixar de visitar países com quem o Brasil deseja estreitar relações diplomáticas, especialmente aqueles localizados na costa oeste da África”. O release da Marinha do Brasil sobre o novo navio citava Lisboa (Portugal), Las Palmas (Espanha), Mindelo (Cabo Verde), Cotonou (Benim), Lagos (Nigéria), São Tomé e Príncipe, Natal (RN), Salvador (BA) e Arraial do Cabo (RJ) antes de chegarem ao Rio de Janeiro (RJ) na primeira semana de outubro. O Almirante Wiemer apontou para o Benim como “um novo parceiro” do Brasil naquela região. O cronograma ainda se encontra em desenvolvimento, mas é certo durante a viagem para o Rio, o NaPaOc Amazonas deve aproveitar a oportunidade para realizar exercícios Passex com as Marinhas e Guardas Costeiras desta região. O Almirante Wiemer lembrou ainda que “o Golfo da Guiné está começado a ver mais e mais casos de pirataria, que, se deixado sem resposta, poderá vir a afetar a segurança de todo o Atlântico sul. Nosso papel na costa da África é o de ajudar às marinhas locais no seu processo natural de capacitação de pessoal e também material”.

Sobre o aparente conflito conceitual entre realizar compras de oportunidade como estas e a de se priorizar os produtos da indústria local de construção naval, o almirante Wiemer explicou que “o estímulo à indústria brasileira é um conceito central do programa da Marinha do Brasil, mas que compras de oportunidade, como esta, nos permitem acelerar o cronograma de implementação saltando várias etapas de uma vez só”.







Antes de se juntarem aos operários e técnicos da BAE Systems no navio, os brasileiros passaram um mês estudando os equipamentos e sistemas que compunham o novo Navio Patrulha Oceânico. A primeira metade de junho foi dedicada a praticar a operação dos sistemas embarcados no navio, inclusive com a realização de exercícios de Combate a Avarias (CAV). A Marinha negociou para que o Amazonas fosse submetido ao programa Flag Officer Sea Training (FOST), o equivalente britânico ao nosso CIASA. Ao final de duas ou três semanas, tanto o navio quanto a sua tripulação estarão plenamente certificados para operar com segurança e eficiência.  Este programa será realizado na Base Naval de Devonport, localizada também na costa do Canal da Mancha, entre os dias 16 e 27 de julho. Entre a mostra de armamento e o inicio do FOST a tripulação estará bem ocupada com os detalhes finais de equipamento do navio e realizando algumas saídas curtas para se preparar para o programa de avaliação. Segundo o Comandante do navio "a experiência de buscar um navio novo no exterior é incrível, especialmente para aqueles militares que nunca saíram do Brasil. Todos nossos oficiais falam inglês fluentemente. Entre os praças, cerca de 15% falam bem e outros 10 por cento compreendem a língua inglesa", mas, certamente, estes números devem mudar após este estágio de imersão em Portsmouth. Para que a tripulação pudesse se acostumar com as características do estuário onde fica a Base Naval, houve alguns dias dedicados ao treinamento de entrada e saída do porto nos simuladores de passadiço da Base. O planejamento atual é para que no dia 6 de agosto o navio parta do Reino Unido dando início à sua longa viagem para sua nova casa.

Segundo o Comandante Giovani, a parte mais complicada deste programa de recebimento residiu no fato de que este navio não foi desenvolvido segundo requerimentos da Marinha do Brasil, e além do mais, pertencia a uma empresa, não a uma outra marinha. Por isso, eles tiveram que criar todos os procedimentos de emprego e de segurança para esta nova classe, levando em conta os padrões da Marinha do Brasil e as características individuais da nova classe. Boa parte do material de marinharia (cabos e cordas), assim como os de Combate a Avarias, veio do Brasil especialmente para serem instalados no novo navio, mantendo assim uma forte comunalidade com os equipamentos usados nos demais navios da MB.









Como a Marinha acabou comprando estes três navios

A velocidade da conclusão desta negociação surpreendeu muita gente, até mesmo o pessoal comercial da BAE Systems. No início de 2011, o Almirante Francisco Deiana, Diretor de Engenharia Naval da Marinha, fez a primeira visita oficial brasileira aos navios de Trinidad. Em fevereiro de 2011, já era possível perceber um interesse claro pelos três OPVs por parte da Marinha do Brasil. O contato seguinte ocorreu em abril com a visita de Alan Garwood ao Brasil para a feira LAAD 2011, realizada no Rio de Janeiro. Nesta ocasião, o Group Business Development Director da BAE Systems visitou a Marinha do Brasil, e pela primeira vez neste processo, foi colocada uma proposta com valores claros na mesa de negociação. No final de junho de 2011 o então ministro da defesa brasileiro Nelson Jobim visitou estes navios em Portsmouth, a convite do Ministro Gerald Howarth. Nesta visita ao Reino Unido ele visitou, além dos OPVs, a construção dos módulos do programa de navios aeródromos da Royal Navy (Queen Elizabeth Class), um destróier Type 45 e ainda uma das corvetas da classe Khareef fabricadas para a Marinha de Oman. O ministro pareceu interessado pelos OPVs, chegando até a dizer que o modelo era adequado às necessidades brasileiras, mas logo depois começou o processo de divergências dele com a Presidência da República que culminou com sua saída do cargo. O pessoal da BAE System comentou com o Almirante Moura Neto, comandante da Marinha do Brasil, que a Real Marinha de Oman também estava interessada em adquirir os navios de patrulha oceânicos, especialmente pela semelhança entre este projeto e suas corvetas. Imediatamente o processo de aquisição foi acelerado pela Marinha junto ao novo ministro Amorim e aos Ministérios da Fazenda e do Planejamento. Em outubro do ano passado uma delegação da Marinha de Oman veio inspecionar os navios no Reino Unido. Com este rival surgindo no horizonte, a Marinha do Brasil solicitou que a BAE System mandasse uma delegação ao Brasil para realizar a negociação final pelos três navios. Para a Marinha, esta é uma janela de oportunidade muito estreita que eles não queriam perder, por isso a rápida resposta. Todo esse processo culminou com a assinatura do contrato entre a Marinha e um grupo de quatro executivos da BAE no dia 29 de dezembro do ano passado.

Os dois primeiros navios, Port of Spain e Scarborough, já estavam praticamente prontos para a entrega, enquanto o terceiro, o San Fernando, foi rebocado para Portsmouth desde Glasgow, e se encontra esperando a conclusão dos detalhes finais de sua montagem. Os seus motores já tinham sido entregues e instalados, porém não haviam sido colocados para funcionar. O navio também não tinha passado por qualquer um dos  chamados testes de pré-entrega. A Marinha do Brasil, por sua vez, tinha seus próprios problemas: tinha que selecionar e montar três tripulações novas para estes navios. Juntando os dois fatores, foi decidido escalonar as entregas de seis em seis meses, o que daria tempo para completar o futuro Araguari antes da chegada de sua tripulação ao Reino Unido. Outra vantagem do escalonamento é que qualquer imperfeição ou dificuldade verificada no primeiro navio entregue poderia ser corrigida nos dois navios restantes antes mesmo deles deixarem o Reino Unido.









Numa conversa com a Royal Navy em fevereiro de 2012, o Almirante Moura Neto levantou a possibilidade de o navio e tripulação, aproveitando o fato de já estarem no Reino Unido, passarem pelo programa Flag Officer Sea Training (FOST) e por um treinamento anti-pirataria da Royal Navy, antes de retornarem para o Brasil. O objetivo é que os três navios passem pelo FOST e pelo outro treinamento, mas isso só será decidido em definitivo após a chegada do Amazonas ao Rio de Janeiro.  

Um dos detalhes mais peculiares destes navios é que alguns de seus componentes foram comercializados sob um contrato ITAR (International Traffic in Arms Regulations 2011 do governo americano). Estes itens dependem de autorização expressa do Departamento de Estado americano para poderem ser vendidos a determinados países, o Brasil inclusive. Neste caso, os itens afetados pelo contrato ITAR são o canhão de 30mm da proa, os dois canhões de 25mm laterais, o sistema de combate e o sistema de radar. Por isso não é permitido a ninguém tirar fotos das telas do Centro de Operações de Combate do navio. A BAE conseguiu a autorização do governo americano para a venda do navio com estes itens ao Brasil, mas na data da nossa visita ainda não tinha saído a autorização (imprescindível) americana para eles treinarem nossos marinheiros nestes sistemas.

A classe Amazonas, como ela é hoje, não atende a todos os requerimentos que a Marinha do Brasil exigiu para os OPVs que fazem parte do programa Prosuper. Entre outras coisas, eles não têm hangar para o helicóptero orgânico e tem um canhão de apenas 30mm, muito menor do que o desejado para os novos navios. Esta torreta automática usa um canhão modelo 30mm DS30M Mark 2 Automated Small Calibre Gun que é uma evolução do sistema Bushmaster II da empresa americana Alliant Techsystems Inc. O blindado Guarani do Exército esta estudando o uso de uma variante desta torreta. Finalmente, os NaPaOcs brasileiros definitivos deverão ter, ainda, uma versão própria do sistema de combate nacional Sicomta. Entende-se que ao longo de sua vida estes três navios comprados de oportunidade venham a ser modificados para este padrão superior trazendo-os para perto dos novos navios que serão comprados em breve.









A BAE System se posiciona para mais negócios no Brasil

Três oficiais-engenheiros da Marinha do Brasil, um Capitão-de-Fragata da Diretoria de Engenharia da Marinha (DEN), um Capitão-de-Corveta do Centro de Projeto de Navios (CPN) e um outro Capitão-de-Corveta da Diretoria de Sistemas de Armas da Marinha (DSAM) se encontram neste momento em Filton, no Reino Unido, trabalhando junto aos engenheiros da BAE dentro do programa Type 26 Global Combat Ship. Cada um deles observa o programa sob sua própria ótica, respectivamente: estrutura, projeto e sistemas de armas.

"A BAE foi a única empresa internacional a convidar a Marinha para enviar seus engenheiros navais", explicou o Capitão-de-Fragata da DEN. Ele logo em seguida enfatizou que "este programa não passa de um simples intercâmbio tecnológico de seis meses entre os dois países, sem, no entanto, representar qualquer tipo de vínculo da Marinha com o programa da T.26". Mais do que trabalhar efetivamente no programa de definição da nova fragata, os oficiais da Marinha atuam primariamente como observadores, conhecendo detalhadamente a metodologia de projeto de navios da BAE.









A despeito de estar vindo de trás em uma corrida em que a indústria francesa ganhou os primeiros grandes negócios, pelo seu lado, a BAE tem boas razões para acreditar ser o parceiro ideal para o Brasil nos programas modernização da Marinha. Com mais de 100 mil empregados e uma receita anual de quase 20 bilhões de libras (62 bilhões de reais) a BAE Systems é a segunda maior empresa de material de defesa do planeta. Atualmente, no total, a empresa tem pedidos ainda por entregar orçados em 36 bilhões de libras (113,4 bilhões de reais). Seus principais mercados de atuação atualmente são o Reino Unido, os EUA, a Índia, Austrália e a Arábia Saudita.

Refletindo uma tendência internacional, quarenta e oito por cento da receita da BAE já se encontra vindo da área de serviços. São 42% para serviços técnicos e militares e seis por cento exclusivamente na área de guerra cibernética e de inteligência. O negócio marítimo individualmente tem uma receita consolidada anual de 2,3 bilhões de libras, um orderbook de sete bilhões de libras e um time de 13.300 profissionais. Esta unidade é dividida em Navios Militares (1,1bilhão de libras de receita anual – 3,4 bilhões de reais), Serviços Navais, com 630 milhões de libras (1,98 bilhão de reais) e Submarinos, que gera a cada 12 meses, 635 milhões de libras (2 bilhões de reais).









Os três novos OPVs e o Prosuper

No release da BAE Systems emitido poucos dias após a assinatura do contrato no valor de 133 milhões de libras esterlinas veio a público uma grande surpresa: "O contrato inclui, também, Licença de Fabricação, que permite a construção de outros navios da mesma classe no Brasil". Mais embaixo no mesmo texto havia uma explicação um pouco mais detalhada: "Como parte da Licença de Fabricação, será fornecido um Pacote de Informação de Projeto contendo informações relevantes sobre o projeto e fabricação, que permitirão à Marinha do Brasil construir outros Navios de Patrulha Oceânica aqui, dando suporte ao programa de reequipamento naval do país e fortalecendo a capacidade industrial marítima do Brasil." Para a Marinha do Brasil o que se buscava era basicamente dispor de todas as informações técnicas e plantas que permitiriam à Marinha implementar modificações futuras no projeto criado para Trinidad e Tobago visando aproximá-lo dos parâmetros desejados pela Marinha no Prosuper. Seriam usados para isso o próprio Arsenal de Marinha ou qualquer outro estaleiro brasileiro que a Marinha viesse a escolher. Para a BAE esse "kit de informações técnicas" equivaleria na prática à uma licença de fabricação de novas unidades da mesma classe de OPVs, fato que a colocaria na liderança para ganhar as próximas cinco unidades de NaPaOcs que constavam no Prosuper.

Talvez para esquivar-se desta sutil manobra britânica, a Marinha jamais admitiu que dentro desta “compra de oportunidade” ela tenha comprado qualquer “licença de fabricação” para esta classe de navios patrulha. Nas palavras do Almirante Deiana no mesmo release da BAE Systems: “Esta aquisição não muda o escopo do Prosuper, nosso programa de aquisição futura de navios que também inclui outros cinco Navios de Patrulha Oceânica de 1.800 toneladas a serem construídos no Brasil”. O programa Prosuper está atualmente nas mãos do Ministério da Defesa aguardando o anúncio de um vencedor, uma vez que todas as tarefas que cabiam à Marinha neste levantamento de informações técnicas e de propostas já foram devidamente concluídas.








O "Tigre da Guanabara"

No centro da mesa de refeições da Praça d'Armas do navio existe uma chamativa estátua de tigre com cerca de 50 centímetros de comprimento. Naturalmente, disso derivou uma pergunta sobre o sentido deste tigre a bordo do navio. Segundo o CT Daniel Martins Franco, Chefe do Departamento de Armamento do navio: "Esta é a mascote do navio é o nosso 'Tigre da Guanabara'", e explicou: “Embora no 'Amazonas' não haja tigres, tão pouco na Guanabara, nossa mascote faz referência à origem do nome do Rio, as conhecidas guerreiras da mitologia grega”.

“O NaPaOc Amazonas é grande, ágil, forte, feroz e agressivo como um Tigre. Não podemos esquecer de sua beleza, que também pode ser comparada à do grande felino. Temos sensores de visão noturna, como a visão do tigre. Temos armas como as garras do tigre. E o espírito da tripulação é espírito guerreiro... espírito de Tigre. E a Guanabara?  Uma referência à nossa sede, o Rio de Janeiro. Como os tigres defendiam as riquezas das lendárias guerreiras, o 'Tigre da Guanabara' defenderá as riquezas do Brasil na nossa Amazônia Azul”.








Navios Patrulha Oceânicos, um dos segmentos mais efervescentes do mercado mundial

O termo "navio patrulha" hoje em dia indica, normalmente, um navio leve, armado de canhões, mas focado primeiramente em atividades de natureza mais simples, quase que apenas policiais, no mar. Em alguns países, como EUA, Noruega e Argentina, existe uma Guarda Costeira segregada da Marinha de Guerra. Nestes casos, essas missões como combater a pirataria, Busca e Resgate no mar, luta contra o contrabando, trafico de drogas, contra a pesca ilegal, e a poluição dos mares, cabem à Guarda Costeira. Aqui no Brasil é a própria Marinha do Brasil que atua nos dois fronts, com as atividades de patrulha ocorrendo tanto no Atlântico como nos rios navegáveis da Amazônia e do Pantanal.

No mar duas classes de patrulheiros atuam na Marinha do Brasil, os doze navios de patrulha costeira (também conhecidos como "NPa 200") da classe Grajaú, e outros quatro da classe Bracuí, que, coincidentemente, são navios ex-Royal Navy.









No PAEMB, o Plano de Articulação e de Equipamento da Marinha do Brasil, para os próximos 20 anos está prevista uma grande ampliação das forças distritais, e nelas especialmente os novos navios patrulhas. Além dos atuais NPas de 200 toneladas deverão ser adquiridos nos estaleiros nacionais nada menos que 27 patrulheiros de 500 toneladas derivados do modelo francês Vigilante 400CL54 III. Destes, dois já foram entregues pelo Estaleiro Inace, o Macaé e o Macau, e outros seis se encontram em construção no Estaleiro Ilha SA na Baía da Guanabara. Novas encomendas desta classe devem ser colocadas nos próximos meses. Num segmento posicionado acima dos NPas de 200 e de 500 toneladas, os novos Navios de Patrulha Oceânica de 1800 toneladas receberão um novo leque de missões.

Com um deslocamento e um alcance muito maior que estes modelos de menor porte, os Navios de Patrulha Oceânicos (NaPaOc na Marinha do Brasil e OPV - Ocean Patrol Vessel pelo mundo afora) são complementares e não substitutos destes.









Nem todo navio cinza de pequeno porte é igual...

Os OPVs (Ocean Patrol Vessels) não devem nunca ser confundidos com outras classes de porte semelhante como as corvetas ou os chamadas Fast Attack Crafts (FACs), conhecidas popularmente como lanchas missileiras. Durante a Guerra Fria proliferaram os navios leves armados de poderosos mísseis antinavio, o representava uma atualização do conceito da lancha-torpedeira do final do século XIX. Estas "Fast Attack Crafts" se esconderiam nas margens de regiões de estrangulamento nos mares e montariam emboscadas em que, se tudo desse certo, os navios mais valiosos do inimigo seriam aniquilados a um custo bem baixo. É da natureza dos FACs a peculiaridade de que seus sistemas de engajamento e seus mísseis somados custem várias vezes mais do que o custo de construção do seu casco.

Aqui no Brasil não se pretende usar estes novos navios para enfrentar navios de escolta armados de mísseis, mas sim policiar às áreas jurisdicionais brasileiras, a chamada "Amazônia Azul".









A recém descoberta importância dos OPVs

Mais do que nunca, os países em desenvolvimento têm consciência de que, se não houver um controle cerrado das suas ZEEs, terceiros vão se aproveitar desta falha para pelo menos pescar ilegal e predatoriamente, potencialmente devastando o estoque de alimento do país de forma possivelmente definitiva, uma ameaça que em tempos de pensamento "ecologicamente correto" dominante, pode assumir proporções apavorantes.








Pirataria moderna: dando um basta aos herdeiros de Jack Sparrow

Os danos causados pelos piratas somalianos são evidentes nos telejornais diários, no entanto a única resposta que se pode dar até agora a este problema é o envio às suas áreas de atuação de grandes números de navios armados das marinhas dos países mais afetados. É claro que uma fragata tem um porte capaz de suportar com facilidade a distância da zona sob ataque dos piratas alem dos longos períodos que se deve ficar por lá em cada patrulha. Mas ao mesmo tempo o complexo sistema de armas de uma fragata a torna uma plataforma superdimensionada e, principalmente cara, para ser empregada contra ameaças simples como barcos pesqueiros e lanchas rápidas equipadas com motores de popa. Nos últimos meses, o rentável negócio da pirataria tem dado as suas caras também na costa oeste da África, mais precisamente, no meio do Golfo da Guiné. Esta tendência preocupa bastante a marinha do Brasil, que se prepara para ser capaz de participar de operações multinacionais nos moldes do que hoje é feito no Golfo de Omã, na costa leste daquele continente. Aparentemente, a resposta mais adequada e de melhor custo-benefício a esta ameaça reside também nos navios Patrulha Oceânicos e por isso a Marinha está reforçando sua esquadra com esta classe de navio.

O Caribe é uma das regiões do globo mais coalhada de navios patrulha costeiros e oceânicos. Há anos a Marinha do México usa seus OPVs da classe Oaxaca para tentar interromper o tráfego de drogas que vem da America do Sul para o consumidor na América do Norte. Ali também a Guarda Costeira Americana opera seus "cutters", de três tamanhos diferentes, na mesma missão. Baseados em Fort Saint Louis, na ilha da Martinica. A marinha francesa opera duas "fragatas" leves da classe Floréal que, com a exceção de apresentar dois mísseis Exocet, é praticamente um grande OPV de 3000 toneladas. Além delas, dois patrulheiros de 500 toneladas, semelhantes ao NPa da nossa classe Macaé, ficam em Caiena, na Guiana Francesa, mais ao sul.









UNCLOS: ZEEs grandes para todos os países com costas marítimas

A preocupação a segurança e com o controle dos recursos vivos e minerais existentes nas áreas marítimas além da costa sempre foi um tema tão importante quanto inconclusivo. Enquanto alguns países, como o Brasil, declaravam unilateralmente territórios no mar de 200 Milhas marítimas ao redor de suas costas. Outros, como os EUA tinham uma política diametralmente oposta, defendendo áreas máximas de 3 milhas náuticas (um "tiro de canhão" na lógica do século XIX) ou mesmo, posteriormente, uma faixa de 12 milhas náuticas de largura que deixaria as riquezas na área subjacente para acesso e uso "coletivo". Somente com a Convenção da ONU para o Direito do Mar (UNCLOS, na sua sigla em inglês) assinada em 1982 em Montego Bay na Jamaica é que começou a ocorrer uma racionalização mais globalizada destas fronteiras marítimas. Aberta para assinaturas em dezembro de 1982, a chamada Convenção das Nações Unidas para a Lei do Mar entrou em vigor em 1994 com a assinatura do 60o país membro.  

Após longo período de negligência oficial as fronteiras marítimas finalmente estavam devidamente mapeadas e documentadas. Foi assim que a maioria dos países finalmente descobriu que tinha importantes riquezas no mar e que agora teria que patrulhá-las e guardá-las adequadamente, disso adveio essa nova e forte demanda por OPVs.







Conclusão

Três Navios de Patrulha Oceânicos foram comprados e outros cinco estão sendo licitados dentro do pacote Prosuper. Estes são claros sinais de que, em breve, a Marinha vai poder chegar ao seu número desejado de 12 NaPaOcs. O conceito magistral da Amazônia Azul, definindo toda a área da nossa ZEE como uma "área de fronteira" a ser defendida pela marinha agora parece que começa a se esgotar diante das novas expectativas geopolíticas nacionais. A necessidade de se fazer presente regularmente nas costas da África, uma região que todos sabem fica localizada muito além da boa e velha "Amazônia Azul", pode nos forçar a ter que conceber novos modelos para vender internamente para o país tanto a importância quanto a relevância do papel e da contribuição da Marinha. Não mais nos limitaremos apenas, à "natural" e "universalmente aceita" idéia da "Defesa das Fronteiras", mas, agora, buscaremos uma nova "defesa dos interesses nacionais" - estejam eles onde estiverem, dentro e, especialmente, fora das nossas fronteiras. Se ainda precisávamos de mais um sinal do quão fortuita para a MB é a chegada do Amazonas, lembremos das anedóticas palavras do Ministro Gerald Howarth durante sua cerimônia de incorporação: “No momento do içamento da bandeira do Brasil, o sempre cinzento céu britânico se abriu, revelando o azul de um lindo dia”. Bem vindo "Tigre da Guanabara", boas caçadas!









Especificações técnicas

Armamento e Sensores:
Canhão principal: 1x 30 mm
Armamento secundário: 2x 25 mm
(bombordo e boreste)
Pontos para 3x armamento de 12.7mm (bombordo e boreste)
Radar anti aéreo e de superfície
Radar de navegação X-band
Radar de navegação S-band
Alça de tiro eletro-ótica
Monitores de fogo 4x

Capacidade operacional:
Convôo de 20 metros para helicópteros de até sete toneladas
Guindaste para 16 toneladas: 1x
Capacidade para levar até 6 contêineres padrão ISO de seis metros e 15 toneladas
Lanchas: 2x Pacific 24, velocidade máxima de 39 nós

Comunicações:
Rádio HF
Rádio VHF
Rádio VHF marine band
Sistema de maensagem de alerta global

Propulsão:
Motores: 2x diesel MAN 16V28/33D 7,350kw
Hélices: 2 x Wärtsillä
Geração de Energia: 3x Geradores Caterpillar de 550 kW e 1 Caterpillar de 200kW

Dimensões e desempenho:
Deslocamento 1,800 toneladas
Deslocamento Carregado: 2.060 toneladas
Comprimento: 90,5 metros
Boca máxima: 13.5 metros
Calado de navegação: 6 metros
Velocidade máxima: 25 nós
Alcance: 5.500 milhas náuticas
Raio de Ação a 12 Nós: 4.000 milhas náuticas
Tamanho da tripulação: 12 Oficiais, 21 SO/SG e  48 CB/MN
Número de tropas/passegeiros: 39
Autonomia: 35 dias














*** Fonte: http://www.alide.com.br/joomla/capa/101-edicao-55/3831-amazonas-p-120
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